terça-feira, 23 de julho de 2013

Os clubes e as torcidas organizadas...

23 de julho de 2013 – Clubes e as torcidas organizadas:

Pensei em escrever esse texto inspirado na atual situação do São Paulo FC e a recente confusão no clube social, envolvendo seu presidente e membros da torcida organizada tricolor. Ambos do mesmo lado do conflito. Mas me adianto a dizer que não conheço de perto nem o grupo de torcedores e nem a política do clube. De toda forma gostaria de tratar do assunto de forma geral, sem particularizações. Essa relação existe em todos os times do Brasil, e do mundo, e com nuances diferentes. E obviamente com desenhos e correlações de forças distintas. Antes de tudo, se você que esta lendo esse humilde texto e acha que torcidas organizadas são apenas um bando de baderneiros e vândalos, simplesmente feche essa janela e não leia o resto. Não é para você.

Nessa relação, obviamente, existem dois pensamentos diferentes. E dois lados, onde cada um deve enxergar o seu. Quando trato como o clube, na verdade quero dizer de quem os dirige. Não falo do Estado e sim de seu governo. Tanto os dirigentes como as torcidas têm como objetivo defender seu clube, suas cores, sua instituição. Mas estão em frentes diferentes, ou deveriam estar. Um independente do outro.
Para o clube de futebol as torcidas organizadas são importantes. É um conjunto de torcedores que se organizam como o próprio nome revela. Ela nunca deixa o time sozinho, invariavelmente quando o time joga fora de seus domínios a presença das organizadas é a base da torcida. Lógico que torcedores “comuns” também estão por ali, assim como quem torce e mora onde será o jogo, mas são a minoria. Muitas torcidas organizadas surgiram para fiscalizar o clube, fiscalizar seus dirigentes, e em muitos casos foram fundadas para derrubar determinado cartola. Muitos que os veem como baderneiros e bandidos adoram a festa que se faz nos estádios. A própria televisão que não vacila em criticar enormemente esses grupos, em suas transmissões focaliza a todo o momento o setor onde se concentram. Claro, é a parte mais bonita da arquibancada. A Torcida Organizada tem duas funções fundamentais, apoiar o time e ser um grupo que dê voz a parte do conjunto dos torcedores. A festa é facilitada com organização, afinal de contas, fazer uma bandeira, ou varias, ter sinalizadores, papeis picados, trapos e batucada, a festa em si. Festa essa que também esta enormemente ameaçada com as novas arenas, não exatamente pelo concreto armado, mas pela forma como querem obrigar o publico a se comportar. Essa festa poderia muito bem ser feita individualmente, mas porque não se organizar para fazer em conjunto? A outra função, e fundamental, é atuar politicamente no clube. Principalmente onde as eleições que definem o destino do time que tanto amam, passa longe dos torcedores da arquibanca e dependem de conselheiros. Muitas vezes envolvidos até o tutano com negócios dentro do clube, e a eleição é só mais um dos capítulos da novela maior, que é levar vantagem administrando e influindo no clube.

Para atuar politicamente e influenciar nas decisões e rumos do time, as organizadas tem como arma a pressão. Quase como um sindicato em relação aos patrões. Com algumas diferenças importantes. Em essência o sindicato representa o conjunto de uma categoria, já as organizadas representam apenas um setor e não a totalidade. Mas falam em nome de milhares de associados, tem sua base real, não são apenas um grupo de gatos pingados. E influenciam e muito na totalidade dos torcedores. Outra diferença é que em relação a trabalhadores (sindicato) e patrões existe um corte de classe, enquanto que na relação torcida organizada e cartolas ela se dá, teoricamente, de forma multi classista. Mas na pratica se formos estudar a essência de classe, a arquibancada é formada pelos trabalhadores e as diretorias dos clubes pelos patrões. E mesmo que os dois tenham interesse em defender as cores que amam, as relações e objetivos são bem diferentes. Então para influir e pressionar nos rumos do seu time, as torcidas organizadas devem ter independência dos cartolas. Independência que para começo de conversa deve ser financeira, as TOs não podem depender da grana da diretoria e nem da venda de ingressos que dela vem. Para com isso poder ter condições de tomar suas atitudes apenas pensando no clube de coração, e não na própria, e importante, existência da torcida.

Por outro lado, os dirigentes não podem ter medo das organizadas. Devem sim ter consciência de que suas atitudes não tenham influencia de interesses pessoais e que beneficiem o clube que administram. Mas muitas dessas relações já estão viciadas há anos, e um depende de outro. E em boa parte dos clubes do Brasil, nem um nem outro agem pensando em sua causa e não em si. Dirigente dá dinheiro ou benesses aos organizados, para não ser criticado. E organizados recebem dinheiros e benesses para não criticar, serem muitas vezes o braço armado das diretorias contra os demais torcedores. Os dois são atores importantes na política, e entendo política de forma muita mais ampla do que apenas eleições, do clube. E devem ter independência para poder atuar de forma coerente.

(Esse texto teve colaboração com discussão de ideias do meu amigo Lui, entendedor das arquibancadas, por lá estar a tantos anos. Valeu cara!)

Felipe Xavier Pelin, gosta desse negocio chamado Futebol...
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2 comentários:

  1. Muito bom o texto... De fato não podemos generalizar as TO como a maior parte da imprensa faz pois isso só dificulta o entendimento do assunto e mascara o problema. TO tem um papel muito importante na vida de um clube, pois além do incentivo dentro de campo, que é mais evidente, ela é responsável por mobilizar as massas e não deixar que os dirigentes se acomodem/ façam o que bem entenderem. Por outro lado esse poder se torna perigoso à medida em que ambos os lados, TO e Clube, descobrem que podem se beneficiar de uma relação “próxima” de parceria e assim passam a agir por interesses que se sobrepõe aos interesses do clube (ex: Blindar dirigente de críticas e ter portas abertas no clube). Com essa falsa união, que na verdade é uma relação de interdependência, a força da TO é legitimada e anestesia qualquer reação contrária do restante... Esse é o maior problema!

    Por isso é fundamental a politização do torcedor comum... Além de frequentar os jogos, seria muito importante que ele tivesse interesse e PARTICIPASSE da vida política do clube... Claro que seria uma utopia querer que todo torcedor comum participe ativamente, mas pelo menos uma pequena parte já seria suficiente para descentralizar o poder e mudar o quadro atual. Mais importante do que uma vitória ou um título é o rumo que o clube pode tomar diante de uma definição política que certamente impactará a longo prazo. E nesse processo de engajar o torcedor comum, a TO pode ajudar disseminando essa cultura, como eu vejo em alguns casos, ou simplesmente minar esse movimento para que tudo permaneça como está...

    Parabéns pelo texto!

    Luis Faloppa

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